A difícil arte de aproveitar a vida
Nós costumeiramente ouvimos as pessoas falando sobre “aproveitar a vida” e o quanto isso tudo é importante para ter uma rotina mais saudável e feliz. Porém, ao mesmo tempo muita gente se esquece de dizer como é que se aproveita a vida, de fato.
Para uns, gastar dinheiro comprando pilhas e pilhas de roupas, é uma forma de aproveitar. Para outros, beber até tropeçar no próprio pé, é uma boa alternativa.
Mas o que muitas dessas pessoas declaram, no fim do dia, é que apesar de aproveitarem, algo ruim ficou mascarado no meio disso. No primeiro caso, a dívida no cartão de crédito. No segundo, uma dor de cabeça, um enjoo ou até mesmo alguma “vergonha” passada em público.
É como se, querendo ou não, estivéssemos fadados a cair em um penhasco, logo depois de aproveitar alguma coisa. E é por isso que costumamos temer aproveitar a vida…
É por isso que você levanta de manhã, um pouco cansado e sem tanta perspectiva, mas mesmo assim vai trabalhar como se essa fosse a única saída. Você queria, na verdade, correr no parque… Mas aproveitar a vida desse jeito, custaria o seu emprego. E você não quer perder o emprego.
Minto! Você não quer é perder seu salário… O emprego até seria encontrado em outro lugar. Mas será que com as mesmas alternativas e benefícios? É aqui que tudo se complica.
A gente quer aproveitar a vida
Todo mundo diz que quer aproveitar a vida. Há quem diga, com todas as palavras, qual seria a melhor forma de curtir e aproveitar a vida. Como também, existem aqueles que ainda não tem um pensamento claro sobre a melhor opção para agir diante de uma situação.
A ideia é aproveitar… Mas sem saber ao certo o quê, e tampouco o porquê.
Pouco a pouco, vamos crescendo. As crianças que antes eram sonhadoras, escondem-se dentro do que nos formamos. Vamos engolindo coisas que, na real, nunca fizeram muito sentido. E isso vai nos enchendo, nos incomodando, e ao mesmo tempo, tirando de nós aquele pingo de coragem de aproveitar algo.
Vamos nos vendo enraizados em empregos medíocres, rotinas regradas a ponto de, se você se atrasar um minuto de manhã, tudo desmorona no decorrer da tarde. E assim, não temos tempo para cogitar um hobby, um lazer, e tampouco sabemos como “aproveitar a vida”.
Assim, sem nem nos darmos conta, vamos seguindo nossas rotinas extremas, exaustivas, infinitas. Tentamos, dia pós dia, chegar em algum lugar que, na verdade, talvez nem saibamos onde é.
A gente acredita, e internaliza a ideia de que seguindo como estamos seguindo, estamos indo em busca de algo. E quando chegamos a este “algo”, finalmente poderemos aproveitar a vida. Será?
O que você já conquistou?
Pare e pense um pouquinho sobre tudo que você já conquistou ao longo da sua vida. Tenho certeza que, em sua mente, essas coisas eram vistas como um ponto de chegada. Que você chegou e, teoricamente, ultrapassou. E como você aproveitou ao chegar lá?
Você aproveitou, ou parou mais uma vez?
Ou ainda… Saiu em busca de um novo objetivo, porque nem sabia como aproveitar, de fato, o que estava acontecendo.
Mas, hei! Tudo bem você não ter aproveitado. Não é meu papel aqui apontar se você fez algo direito ou não. Meu papel está sendo te instigar a pensar. A pensar no modo que aproveitamos a vida.
Você saberia, por exemplo, me dizer quantas vezes aproveitou? Sem se preocupar com as consequências? E quando as consequências chegaram, o que você fez com elas?
Aproveitar a vida é difícil
É nítido o quanto aproveitar a vida é difícil. Cansa, machuca. E faz com que, por conta desses contras, acabemos ficando mais tempo parados. Mais tempo seguros.
Aproveitar a vida é estar ciente de que confortos e até mesmo outros prazeres serão renunciados. É como se diz… “Cada escolha uma renúncia”. E renunciar é sufocante. Dói, dá medo e faz com que fiquemos parados.
Ao mesmo tempo, o medo de aproveitar a vida nos deixa em uma zona de conforto nada confortável. Esquecemo-nos de coisas que antes nos davam prazer, e que hoje ficam de lado porque custam dinheiro, dignidade, energia, tempo.
Vamos dando espaço para coisas mais sistemáticas, rápidas, imediatas e materialistas. Deixamos de lado desejos intrínsecos. Esquecemos como chegamos aqui.
Aproveitar a vida tem sido extremamente difícil. Aproveitar, custa caro.
Mas sabe o que é mais caro do que a renúncia de coisas “certas”, pelas “incertas” do aproveitar a vida? Viver uma vida inteira sem aproveitar nada.
O que você gostaria de aproveitar, mas, por medo, não põe o pé no chão, pela manhã, e decide fazer?
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